domingo, 19 de junho de 2011

Eu, Christiane F.

Kai Hermann, Horst Rieck, 1989
Editora Círculo do Livro
 

Sinopse: O livro tem início com o texto do processo (Berlim, 1978) em que Christiane, colegial, menor de idade, é acusada de consumir, de maneira contínua, substâncias e misturas químicas proibidas por lei. Foi acusada também de ter-se entregado à prostituição, com o propósito de juntar dinheiro suficiente para comprar drogas. Após tudo isso, sua família se desestruturou; o pai ficou desempregado, a mãe pediu o divórcio, e o inferno instalou-se no seio da família. Christiane era surrada sempre e o lar, por ter-se transformado num ambiente hostil, fez com que ela procurasse as ruas. O livro intercala o depoimento de Christiane com o de sua mãe, de policiais que tiveram contato com a menina, e de psicólogos.


Acho que esse livro é um dos mais famosos, mas a grande maioria das pessoas nunca o leu. Se leu, foi por não aguentar mais ouvir comentários a respeito e não poder comentar também. Foi o meu caso. Comecei e terminei em cerca de dois dias, mas a leitura é tão intensa que poderia tê-lo feito em menos tempo. A história de Christiane é triste, é verdade, mas ela não é como quando sua mãe quer lhe dar uma lição de moral. É apenas aquele retrato abstrato de algo distante que você fica olhando, tentando entender, até que desiste e se vira em busca de outra obra. Essa era a minha visão do livro antes de começar a leitura, mas conforme as páginas foram virando e a história foi se revelando, descobri que a história dela é mais próxima de todos nós do que podia imaginar.

Ela não é uma marginal por se drogar, não mesmo. E o simples fato de ela usá-las não a torna uma "má pessoa". Christiane foi usada da mesma forma que muitos jovens são usados hoje em dia, simples. O fato de haver drogas no meio é mero detalhe. É um livro de leitura relativamente fácil, mas o tema é pesado e os comentários dela no decorrer da leitura tornam um tanto mais difícil; se você conseguir ler tudo sem se emocionar e ou julgá-la, tenha meus parabéns, por que não é algo que qualquer pessoa consiga. A certeza de que é real torna ainda mais difícil. Não se costuma julgar outras pessoas (ao menos não abertamente).
Acredito que todas as pessoas, independente de idade, deveriam ler esse livro. Sem mais.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

100 Escovadas Antes de ir para a Cama

Melissa Panarello, 2004
Editora Objetiva
 

Sinopse: No inverno europeu de 2002, longe dos olhos da mãe e do pai, a jovem italiana Melissa Panarello começou a escrever um diário em que relatava, sem pudores e meias palavras, as precoces e variadas experiências sexuais vividas por uma colegial entre os 15 e os 16 anos. A história de Melissa começa quando ela perde a virgindade aos 15 anos de idade. A descoberta de um mundo novo e diferente, o desejo de amar e se sentir amada e a ilusão de encontrar este sentimento através do sexo. É esse o ponto de partida para um relato que mistura de forma provocadora ficção e realidade, num vasto e surpreendente rito de iniciação sexual.
Quando um amigo sugeriu o livro não levei muita fé na qualidade da leitura que ele me propunha, mas ainda assim procurei o livro para download. No mesmo dia comecei a ler. Por não ser um livro muito grande nem de muitas complicações na leitura, terminei no dia seguinte.

O título, que sugere algo um tanto quanto infantil, desperta nos mais atentos um certo preconceito, mas é apenas isso. Quando se quebra essa barreira da primeira impressão (certas vezes, também, pode-se ter ouvido falar do livro e ou lido resenhas) e nos deixamos levar pela história de Melissa, descobrimo-nos em certa altura conectados com ela. Sexo hoje em dia é tabu apenas socialmente, porque nos círculos mais íntimos o assunto é corriqueiro. E o que acontece com Melissa é a mais pura verdade. Meninas até mais novas que ela fizeram coisas, às vezes, "piores" do que o que ela nos relata através de seu diário.

A história é consistente, mas em minha opinião, num relato de diário não há diálogos como os de uma outra narrativa. Um diário é algo mais íntimo e pessoal, onde você conta à sua maneira a situação. Mas, afastando da visão esse detalhe, é um livro como qualquer outro. Relata o que sabe, da forma que sabe (e com diálogos). Bem, o assunto tratado é bem explícito: sexo. Ponto. Não é algo vulgar, diria que até pelo contrário, mas isso não muda o fato de ser sobre sexo. Sendo-o, portanto, e inibindo de certa forma. Como disse, não se deixem levar pelas aparências.

Pessoalmente, ambas Melissa me agradam. A personagem é intensa e é bem humana; humana de tal forma que às vezes indentifiquei-me com ela. O livro é pequeno, então com paciência e persistência, é possível terminar no mesmo dia, mas aconselharia a ir devagar para que possa entender toda a mensagem que a história passa. A autora, logo no começo do livro (ao menos do meu exemplar), diz ter em comum, digamos, mais do que apenas o nome da personagem. Conquistou-me. Recomendado especialmente às meninas, mas todos podem – e devem! – ler, é claro.

domingo, 12 de junho de 2011

As Mentiras que os Homens Contam

Luis Fernando Veríssimo, 2000
Editora Objetiva

Sinopse: Quantas vezes você mente por dia? Calma, não precisa responder agora. Também não é sempre que você conta uma mentira. Só de vez em quando. Na verdade, quando você mente, é porque precisa. Para proteger o outro - e de preferência, a outra. Foi assim com a mãe, a namorada, a mulher, a sogra. Questão de sobrevivência. Tudo pelo bom convívio social, pela harmonia dentro de casa, para uma noite mais simpática com os amigos. Você só mente, no fundo, para poupar as pessoas, e, sobretudo, para o bem das mulheres.
Luis Fernando Verissimo, este observador bem-humorado do cotidiano brasileiro, reúne aqui um repertório divertido de histórias assim - tão indispensáveis que, de repente, viram até verdades. Depende de quem ouve. Depende de quem conta.

Dispensa comentários maiores. O livro começa com o tom certo, empregado da forma certa e no momento exato. Com uma linguagem fluida e popular, Luis Fernando Veríssimo nos guia por entre retratos da nossa própria rotina, que retratados, parecem adquirir por si só um tom engraçado que torna tudo mais leve.

Quando comecei a ler o livro sentia a cada página virada a necessidade de acabar logo, mas após algum, quando se chega nas páginas finais, você inesperadamente tem vontade de parar. Não por que seja ruim. Longe disso. É porque você não quer que acabe. Simples. 

São todos as "mentirinhas de todo-dia" que todos nós, independente do sexo, contamos quando somos pegos desprevenidos. É completamente inofensivo e natural. Ninguém sai prejudicado se ninguém souber, mas o problema é quando alguém descobre... Que nunca passou por essas situações que julgue primeiro a capa – que por sinal, adorei –. Leitura divertida e completa. Do tipo que você usa para passar o tempo enquanto espera o ponto chegar, ou para ajudar a digestão. Não importa, sempre é a hora certa. Mais do que recomendado para qualquer um, independente de suas mentirinhas quotidianas.

Assassinato no Expresso do Oriente

Agatha Christie, 1934
Editora Nova Fronteira

Sinopse: Pouco depois da meia-noite, uma tempestade de neve pára o Expresso do Oriente nos trilhos. O luxuoso trem está surpreendentemente cheio para essa época do ano. Mas, na manhã seguinte, há um passageiro a menos. Uma americano é encontrado morto em sua cabina, com doze facadas, e a porta estava trancada por dentro. Pistas falsas são colocadas no caminho de Hercule Poirot para tentar mantê-lo fora de cena, mas, num dramático desenlace, ele apresenta não uma, mas duas soluções para o crime.
Acho que dispensa apresentações, não é mesmo? Agatha é simplesmente Agatha, sem tirar nem por, e por isso mesmo é tão maravilhoso. O livro é bem antigo e um dos mais conhecidos dela, mas ainda parece tão recente que você, com o andamento da história, começa a notar os detalhezinhos para tentar desvendar o final e o assassino. Essa é a melhor parte: você muito dificilmente, para não dizer impossível, conseguirá acertar. Você pode até chegar bem perto do assassino e de seu método, mas o motivo sempre vai escapar por entre seus dedos. Sempre.


Hercule é outro que dispensa comentários. É exatamente a personagem com quem todos sonhamos. Mente astuta e ágil. Arrogante? Não, não. Merecedor de todas as honrarias e mais outras tantas. Eu, mesmo já conhecendo-o e sabendo o estilo de Agatha, surpreendi-me com a leveza com que ela nos guia por entre as cabinas do Expresso do Oriente. O assassino? Bem, não interessa e nunca se torna o fato que mais me chama a atenção, até porque já li o livro outras vezes. Quando forem ler, peço que prestem atenção aos pequenos detalhes. Seja metódico. Hercule Poirot se orgulharia de você caso você, de alguma forma, pudesse ver e enchergar tudo, mesmo se você não conseguir unir todas as peças.

Com um ótimo enredo, cheio de mistérios e sangue, a autora consegue prender gerações e gerações de leitores com mais uma aventura do caríssimo detetive. Sem dúvida um dos melhores livros que já li.

sábado, 4 de junho de 2011

Depois da Escuridão

Tilly Bagshawe e Sidney Sheldon, 2010
Editora Record

Sinopse: A doce e angelical Grace Brookstein é a socialite mais querida dos Estados Unidos e leva uma vida de princesa. Até o dia em que seu marido, o bilionário Lenny Brookstein, dono do fundo de hedge Quorum, sai para velejar e nunca mais retorna. Enquanto lida com a trágica morte do marido, um novo escândalo abala a vida de Grace: bilhões de dólares desaparecem do fundo Quorum, provocando a falência de milhares de famílias. Grace torna-se a principal suspeita e da noite para o dia sua vida se transforma. Determinada a provar sua inocência, Grace embarca numa jornada que revelará que ninguém a sua volta é digno de confiança.

Assim, quando vi o anúncio do livro, comprei. Simples. Julguei o livro pela capa e decepcionei-me. É um bom livro, é bem escrito, mas a trama dele não é digna do nome que leva. Grace é previsível, bobinha. É aquela história da garota rica jovem e bonita que se casou com um homem mais velho e rico (não tão bonito, vai), acontece algo e eles se tornam pobres, ela se revolta (...). É isso, ponto. Há um suspense por trás, é claro, mas as personagens secundárias são muito mais interessantes que a própria Grace, a protagonista. Sem falar que, além de previsível, ela torna-se um tanto chata com o decorrer da história, que por sinal, já foi base para outro romance da parceria (A Senhora do Jogo).

Creio que certas partes podiam ter sido melhor trabalhadas, pois parece-me que Grace é uma pessoa absolutamente medíocre que caiu num romance por acaso, como uma gota de tinta no pergaminho e esqueceram-se de dá-lhe o mataborrão.

Um dos poucos pontos forte do romance é que o final realmente conseguiu me surpreender, mas não a cena, o próprio desfecho. Foi uma sacada genial, de fato, mas novamente poderia ter sido melhor trabalhada de forma descritiva. E outra: Caroline, a irmã malvada, é mais simpática que Grace.

Recomendaria o livro apenas aos aventureiros, dispostos a se surpreender de forma, talvez, positiva. Ou não.

Quando a Vida Escolhe



Zibia Gasparetto, 2002
Editora Vida e Consciência



De alguns meses para cá, posso dizer com certeza que foi um dos melhores livros que li. Mesmo se tratando de um tema religioso, é um romance como qualquer outro, e um dos melhores. Não digo que ensina algo, digo que te mostra um outro ângulo da sua própria vida, não importando como ela seja. Bem, vamos retomar a resenha, rs.

Admito que fiquei com um pezinho atrás por ser de tema religioso, mas depois de vencer essa barreira inicial, a leitura mostrou-se tão simples e bonita que me cativou. Tem um bom ritmo, sim, mas é bom que preste atenção para não se perder nas linhas da história. Não encontrei grandes dificuldades para interpretar o texto - ao menos, foram poucas e bem simples, por desatenção mesmo - nem grandes obstáculos para a continuidade.

A história é bem simples, na verdade, mas é bem real. Não é daqueles romances que você pára e pensa: 'Nossa, será que foi o tal que matou o Fulano?', nem há grandes mistérios rondando a trama. Você pode simplesmente pegar o livro como uma diversão realmente, sem ter aquele 'tchan' que prende o leitor até o final apenas para descobrir quem foi o culpado; a história por si só cativa o leitor.

As personagens, com especial atenção à Luciana, são tão reais e estilizadas ao mesmo tempo que pareço conhecê-las. É uma ótima sensação essa, de poder, de certa forma, interagir com o livro. Enquanto lê, pensa no que você faria no lugar de cada uma delas. Ao final chega à conclusão de que tudo foi certo, mesmo os aparentes erros. É a vida, simplesmente. Recomendadíssimo para todos, mas devem ler de coração e mente abertos. Sem preconceitos nem críticas.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Senhora do Jogo



Tilly Bagshawe e Sidney Sheldon, 2009
Editora Record


Quando o vi no folheto, com o nome de Sidney Sheldon no título - Tilly foi mero detalhe -, não hesitei em comprá-lo. Paguei caro. Bem caro, diria, pois mesmo tendo lido poucos livros de Sidney, esse pouco me agradou. É uma boa história, sim, mas nela há muitas menções do livro anterior (O Reverso da Medalha) e para quem não o leu, como eu, é um tanto difícil entender a origem do enredo deste. Creio que se você já o leu, não será difícil situar-se na linha temporal do volume.

O começo do livro é bem típico, como o livro todo. Você já começa de cara a imaginar o que vai acontecer com quem e quando, especialmente aqueles que já conhecem o estilo de Sidney. Porém, no decorrer do livro creio que o encanto das letras alaranjadas da capa se desfaz. Tudo se torna muito rápido e há muita informação, tratada como num desses livretos de banca qualquer, não um Sidney Sheldon como diz a capa. Algumas informações (diria que certas "novidades" científicas) estão confusas, embora haja uma base verossímil para elas. Penso que também, a velocidade dos acontecimentos aumenta significativamente no meio do livro, fazendo com que você fique querendo realmente saber o que acontece, mas no fim, ao descobrir - ao menos eu - senti-me desapontada.

Volto a reafirmar que é um bom livro, bem escrito, e cumpre a premissa da história, mas não me agradou. Não houve aquele estalo que me acontece com boas histórias. A personagem principal, por si só, é uma bonequinha americana que tenta, através de formas um tanto suspeitas, provar que não é frágil como aparenta, em relação a isso, penso que poderia ter sido melhor trabalhado. Recomendo aos amantes de Sidney, mas reafirmo: não esperem demais, mas leiam com a mente aberta.

Destino: Transilvânia




Regina Drummond, 2006
Editora Scipione


Pessoalmente, admito que o título do livro me atraiu pouco ou quase nada quando comparado com as críticas que vieram com o volume, na contracapa e abas. E, bom, meu bom senso gritou que eu não deveria pegá-lo da estante, mas a necessidade de algo para ler me forçou à escolha.

No geral, é um livro muito bem escrito, mas peca feio no desenvolvimento da proposta para a personagem principal. Gostei até, digamos, o capítulo 10, quando é ano-novo. Daí em diante a personagem se torna uma bonequinha articulada. As ações e reações dela tornam-se previsíveis e o que ela diz pouco condiz com o contexto. No final, senti que o livro foi terminado às pressas para cumprir prazos e assim sendo, ficou faltando uma gigantesca parte que eu chamaria de FINAL.

O ambiente no qual o livro se passa é mágico, é lindo, mas a autora parece não ter conseguido brincar com isso enquanto escrevia. Em algumas partes, na descrição dos lugares, parece-me que foram tiradas de livretos para turistas, porque têm uma linguagem deveras formal para se encaixar naquela com a qual a autora escreve. E outra coisa: tentar explicar o que foi feito, o processo mesmo, é bem legal, sabe. Deixar os leitores no escuro é chamá-los de ignorantes.

Ao fim, decididamente eu não indicaria Destino: Transilvânia como um bom livro a um amante desse tipo de literatura de mistério infanto-juvenil. Decepcionei-me.

O Assassino Ético




David Liss, 2007
Editora Record


É um bom livro, é fato, mas ele tem um ritmo um tanto estranho. Começa e você diz: NOOOOSSA!, mas quando passam alguns capítulos você começa a se perguntar onde a história vai terminar, pois o autor usa de muitos enredos diferentes para compor a trama do livro.

Lembro-me bem de quando comecei a ler. A capa do livro é atraente, a sinopse é muito bem feita, as críticas em geral são apenas contra o ritmo dele, que é entrecortado de cenas de ação e algumas lerdinhas, digamos. Algumas pessoas sentem-se intimidadas pela brochura do livro (quase 500 páginas), mas adianto que a font size é maior que o padrão ao que estamos acostumados, então "compensa" um pouco o tamanho. Em relação ao conteúdo, à trama, digo que foi muito bem escrita e desenhada. Lem não é um bonequinho previsível e patético, apesar de ser fraco, ele tem atitudes sim, apenas não como o grande herói da história. Surpreende-nos a todo momento com sua narração em primeira pessoa (o livro se altera nisso, primeira e terceira pessoa do singular).

As demais personagens, com atenção especial à Melford, fogem totalmente ao que temos por bons. São maus, são feios, são tudo que identificamos em vilões, mas têm também sentimentos. E é dessa dualidade que o autor utiliza para escrever (muito bem, diga-se) seu livro. Recomendo àqueles cuja paciência seja grande, pois os mais afoitos poderão perder-se ainda no começo do livro.